Copiado na integra daqui
"Não sei nada sobre este miúdo. Nasceu antes do tempo, respirou por tubos, uma mistura de gases que, para chegar ao sangue, tinha de ser soprada a altas pressões. Ficou ligado a uma botija que debita meio litro de oxigénio numa coleira que lhe dá uma autonomia de dois metros. Vive num lar de acolhimento, chamemos-lhe assim. A mulher que hoje dormiu ao seu lado trabalha nesse lar e esteve ausente uma semana, por gripe , claro. Quando voltou achou o menino mal. Tinha os lábios roxos e estava paradito. Disseram-lhe que já estivera pior. Ela rodou a torneira do gás e o menino melhorou. Depois chamou a ambulância e foi com ele para o hospital, onde há um médico que conhece a criança e a sua doença.
Ouço esta história duas vezes. Na passagem de turno e pela voz da mulher. É uma rapariga da terra. Ainda não tem idade para ter filhos e, nesta manhã, não teve tempo para se arranjar. O menino está ao seu colo e ora olha com atenção ora se esconde no côncavo do ombro, como fazem as crianças expostas a desconhecidos.
Quando lhe digo que o menino está feliz, ela responde: - Pela primeira vez na vida dormiu com uma pessoa que era só dela."
"Não sei nada sobre este miúdo. Nasceu antes do tempo, respirou por tubos, uma mistura de gases que, para chegar ao sangue, tinha de ser soprada a altas pressões. Ficou ligado a uma botija que debita meio litro de oxigénio numa coleira que lhe dá uma autonomia de dois metros. Vive num lar de acolhimento, chamemos-lhe assim. A mulher que hoje dormiu ao seu lado trabalha nesse lar e esteve ausente uma semana, por gripe , claro. Quando voltou achou o menino mal. Tinha os lábios roxos e estava paradito. Disseram-lhe que já estivera pior. Ela rodou a torneira do gás e o menino melhorou. Depois chamou a ambulância e foi com ele para o hospital, onde há um médico que conhece a criança e a sua doença.
Ouço esta história duas vezes. Na passagem de turno e pela voz da mulher. É uma rapariga da terra. Ainda não tem idade para ter filhos e, nesta manhã, não teve tempo para se arranjar. O menino está ao seu colo e ora olha com atenção ora se esconde no côncavo do ombro, como fazem as crianças expostas a desconhecidos.
Quando lhe digo que o menino está feliz, ela responde: - Pela primeira vez na vida dormiu com uma pessoa que era só dela."