quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

"O menino. A noite"

Copiado na integra daqui

"Não sei nada sobre este miúdo. Nasceu antes do tempo, respirou por tubos, uma mistura de gases que, para chegar ao sangue, tinha de ser soprada a altas pressões. Ficou ligado a uma botija que debita meio litro de oxigénio numa coleira que lhe dá uma autonomia de dois metros. Vive num lar de acolhimento, chamemos-lhe assim. A mulher que hoje dormiu ao seu lado trabalha nesse lar e esteve ausente uma semana, por gripe , claro. Quando voltou achou o menino mal. Tinha os lábios roxos e estava paradito. Disseram-lhe que já estivera pior. Ela rodou a torneira do gás e o menino melhorou. Depois chamou a ambulância e foi com ele para o hospital, onde há um médico que conhece a criança e a sua doença.
Ouço esta história duas vezes. Na passagem de turno e pela voz da mulher. É uma rapariga da terra. Ainda não tem idade para ter filhos e, nesta manhã, não teve tempo para se arranjar. O menino está ao seu colo e ora olha com atenção ora se esconde no côncavo do ombro, como fazem as crianças expostas a desconhecidos.
Quando lhe digo que o menino está feliz, ela responde: - Pela primeira vez na vida dormiu com uma pessoa que era só dela."

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